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domingo, 26 de junho de 2011

Bolsa é um jogo... mas não de azar

Uma frase que é dita sem o menor critério: "a bolsa é jogo". Antes de você pensar que eu vou negar essa frase, já adianto logo que concordo plenamente, sim, a bolsa é um jogo.

Porém, como também foi dito, é preciso de critério. Afinal, existem diferentes tipo de jogos. E certamente, a bolsa NÃO é um jogo de azar, ou pelo menos, não é para quem não a encara desta forma. Se um investidor (ou operador, ou mesmo apostador) colocar seus recursos financeiros na bolsa de qualquer forma, sem estratégia, sem conhecimento, apenas contando com a SORTE, ele estará transformando a renda variável em jogo de azar.

Os jogos de azar são jogos nos quais a possibilidade de ganhar ou perder não dependem da habilidade do jogador, mas sim exclusivamente da SORTE ou do AZAR do apostador. Melhor exemplo: a roleta, o apostador não pode fazer nada, nenhum cálculo, criar estratégia alguma, para que o número apostado seja o sorteado na roleta.

Agora, pensemos em outro jogo muito conhecido, o pôquer. Jogadores que conhecem a fundo este jogo, sabem que a estatística é algo totalmente presente neste jogo, ainda que seja um jogo de cartas e com informações incompletas (todas as cartas não são exibidas logo no início), o pôquer carrega consigo aspectos lógicos.

Por exemplo, o Royal Straight Flush é a sequencia de cartas mais valiosa no jogo, é uma combinação de 5 cartas do mesmo naipe que vai do 10 ao Ás, portanto, só existem 4 combinações possíveis. Agora digamos que um jogador tenha uma quadra de 10 em mãos. Pela lógica, ele já sabe que nenhum oponente tem um royal já que todos as cartas 10 estão com ele. A única sequencia que poderia vence-lo é o Straight Flush (5 cartas seguidas do mesmo naipe que não seja do 10 ao Ás), ou seja, suas chances de vitórias são altas, isso lhe possibilita aumentar sua aposta.

Esse é o ponto, essa é a forma de decidir se você quer jogar um jogo de azar ou jogar um jogo onde mesmo que tenha informações incompletas você possa apostar naquilo que seja o mais provável. Ainda que não possamos tentar usar lógica na bolsa, podemos nos colocar a favor do que tem melhor relação risco x ganho.

É importante salientar que "melhor risco x ganho" não significa "o que você acha que pode ocorrer mais facilmente" ou "as bolsas da Ásia fecharam em baixa então há grande risco de que aqui também feche em baixa". Não é nada disso. É matemática. Devemos "apostar" (investir, operar, depositar recursos, etc) no que for matematicamente melhor.

Por exemplo, o simples jogo de cara x coroa, cada resultado tem 50% de chances de ocorrer. Digamos que se der cara eu ganho 3 reais e se der coroa você ganha 1 real. Se você topar, eu jogo milhares de vezes com você, pois o EV (expected value ou valor esperado) é positivo para mim. Com duas jogadas, uma em que eu ganhe 3 reais e na outra eu perca 1 real, meu lucro é de 2. Na média, eu ganhei 1 real a cada jogada, ou seja, o EV é +1. É claro que se jogarmos apenas duas vezes, eu posso perder as duas, mais numa amostragem maior, de 1.000 ou mais, digamos 1 milhão de jogadas, a tendência é que dê cara em algo muito próximo a 50% das vezes.

Note que o mais importante não é ganhar muito de uma só vez,
nem mesmo é preciso ganhar TODAS as vezes.

O melhor é ter um EV positivo, e se beneficiar dele o maior tempo possível.

Agora imagine que em vez de termos 50% de chance para cada resultado do cara x coroa, digamos que fosse possível afirmar que foi constatado que há 10 anos esta moeda resulta em cara 65% das vezes. Certamente seria interessante aumentar a aposta, ou no mínimo diria que estou com uma segurança ainda maior.

Quem não quer brincar de cassino na bolsa, encarando-a como jogo de azar, deve pensar nestas questões e procurar por operações com EV positivo, procurando tentar ganhar 3 ou mais para cada 1 que arriscar. E para melhorar, procurando se colocar a favor das probabilidades se houver alguma forma de mensura-las.

Algo como: você quer comprar determinada ação, mas ela vem fazendo topos e fundos mais baixos semana após semana. Então, pra que operar esta ação na ponta compradora? Pra que se achar esperto e fazer "uma comprinha especulativa"? É pedir para ficar passando calor sem necessidade. É apostar em jogo de azar esperando que a sorte o ajude.

Quer comprar algo, procure o que esteja em alta, depois monte uma operação com EV positivo - se o preço cair Y% eu assumo o prejuízo, mas fico na operação até conseguir um alvo de 3x Y%.

Faça isso sistematicamente verá que a bolsa não é cassino e os lucros virão naturalmente.

sábado, 11 de junho de 2011

Não opere notícias


Um dos primeiros erros de quem começa investir em bolsa, é achar que estar "antenado" nas notícias do Brasil e do mundo vai facilitar sua vida no mercado.

Isso é uma balela. Motivos:

1 - A interpretação de cada um

Por mais que você esteja informado, você não sabe qual será a reação ou interpretação de outros investidores em relação àquilo que lêem. Um dos maiores exemplos, é quando sai o resultado de balanço de empresas. Muitas vezes, o resultado mesmo saindo positivo, o preço da ação cai. O "esperto" que se "entupiu" do papel daquela empresa, comprando tudo o que podia e o que não podia, nota que entrou numa furada quando tal ação começa a cair dia após dia. Então ele pergunta "porque?"

A resposta é que não há resposta. Ou pelo menos que não é aquilo que ele imaginava. "O balanço foi positivo, a ação tinha que subir".
Mas, talvez ele não tenha atentado para o fato de que, ainda positivo, foi menor do que o quadrimestre passado. Ou foi muito abaixo do mesmo quadrimestre correspondente no ano passado... Ou que com esse balanço positivo, o conselho da empresa decidiu aumentar os investimentos baixando o caixa no curto prazo ainda que esses investimentos tragam (possivelmente) bons lucros, melhora da empresa, etc, no longo prazo.

2 - O novo já nasce velho

Se você não faz parte do conselho da empresa, não trabalha em áreas estratégicas da empresa ou não possui qualquer fonte de informação privilegiada na empresa, pode ter certeza que você não está sabendo de novidade alguma. Ou seja, quando a notícia chega no jornal para o "povão" ler, muita gente já está sabendo daquilo. A expressão para isso é "tudo já está precificado". A notícia que chega para você já está velha.

3 - O que não está precificado, ainda não é fato, e se não é fato é boato...

Essa é a grande armadilha. Imagine só:
Há meses uma empresa começa a fazer propostas de compra ao seu maior concorrente, vez ou outra as ações dão uma pequena disparada mas voltam a estaca zero porque tal concorrente não aceita o negócio. Repetidas vezes o mesmo ocorre, até que, tal concorrente aceita o negócio, a massa começa a comprar, você entra na manada e vai junto, vende seu carro e compra tudo o que pode das ações dessa empresa, 1 dia se passa e a massa segue feliz, mais 2 ou 3 dias, e tem gente ainda comprando...
"É a ação do momento" é o que a manada diz, até que... o órgão regulador numa reunião que terminou tarde da noite (com a bolsa fechada, claro) cancela tal compra pelo motivo de que "a concorrência vai acabar se o negócio for realizado" ou algo parecido.

O que acontece na manhã seguinte? As ações da tal "empresa do momento" já abrem negociação 5% abaixo do dia anterior, alguns conseguem cair fora rápido o que faz com que a cotação continue caindo. Cria-se um efeito de queda que em 1 hora de pregão o papel chega a bater -10% em relação ao dia anterior.

Durante o dia, a queda dá uma segurada, a cotação até sobe um pouquinho e muitos "que tem fé" seguram o papel à espera de um milagre. Chega a noite, todos os telejornais comentam sobre "uma queda forte nas ações da empresa tal", quem nem sabia o que estava acontecendo, talvez por não ter tido tempo sequer de olhar as cotações, já vai dormir decidido a vender tudo.

...abre-se o pregão no outro dia, e a ação abre novamente por volta de 5% negativos e termina o dia bem próximo disso. Se fizer as contas, você que seguiu a manada, devolveu todo o lucro (que nem tinha embolsado) e já está no prejuízo.

Portanto, é importante não seguir a manada, achando que uma assinatura de um jornal de economia ou a visita a todos os sites de economia irão te guiar nos seus trades. Melhor, use apenas análise fundamentalista para ter uma noção de quais são as melhores empresas atento para o fato de que os números podem mudar, ainda que num prazo maior. Ou use a boa e velha análise técnica, olhando apenas os gráficos, avaliando a média dos preços, a força compradora ou vendedora, etc.

Se você já opera, faça um teste, fique 1 mês sem visitar fóruns ou ler notícias, nenhuma notinha no canto do jornal. Evite até olhar aquele monitor com notícias no elevador do trabalho. No final do mês avalie seu resultado... mesmo que seja negativo porque isso é normal e acontece, você pelo menos ganha em não passar por stress.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Cigarros ou Ações


Ontem, dia 31 de maio, foi o Dia Mundial Sem Tabaco. Portanto, para homenagear este dia, um post relacionando o cigarro e, claro, as ações. Afinal, esse é um blog sobre investimentos.
Mas, não vou falar sobre compra de ações da Souza Cruz, até porque eu nem incluo esse ativo na minha lista de análises pois nunca colocaria 1 real sequer nessa indústria. A associação que quero fazer é com o quanto que se paga para ficar doente e o quanto um fumante ganharia em qualidade de vida e dinheiro de fato se trocasse a compra de cigarros por ações. Deixar de gastar com algo que não trás retorno, já é ganho. Deixar de gastar com algo que trás doenças então é mais do que ganho, é inteligência.
Imagine um homem de 25 anos, que fuma 2 maços de cigarros por dia, a um custo de aproximadamente R$4,00 por mês. Depois de um período de 50 anos, do alto de seus 75 anos de idade, ele terá alta probabilidade de estar com câncer ou enfisema algo nada interessante para gozar a aposentadoria. Ficar sem saúde é a pior coisa do mundo.
Por outro lado, digamos que em vez de comprar 2 maços por dia, o inteligente rapaz pensou em usar o mesmo recurso financeiro e comprou ações de uma boa empresa, digamos o Banco do Brasil, um dos 5 maiores bancos estatais do país, fundado em 12 de outubro de 1808. Façamos as contas...
Valor do maço de cigarros = 4,00 em média x 2 = 8,00
Por mês = 30 dias x 8,00 = R$240,00
Cotação do Banco do Brasil = em torno de 28,00(arredondando para 30,00 para facilitar as contas)
Poder de compra = 240 / 30 = 8 ações por mês
50 anos = 50 x 12 meses x 8 ações = 4.800 ações
Lembrando que todo ano, boas empresas como Banco do Brasil, pagam bons dividendos e juros sobre capital próprio, lembrando que os dividendos saem do preço da ação, mas são recursos financeiros com os quais se pode usar para comprar mais ações sem colocar dinheiro novo. Vamos considerar que em todo esse tempo deu para comprar pelo menos, mais umas 700 ações, ainda mais porque quanto mais se vê o patrimônio crescer, mais incentivo se tem e se coloca até um pouco mais de dinheiro no processo. No final, totaliza-se pelo menos 5.500 ações.
Opinião pessoal: eu prefiro ter 5.500 ações do Banco do Brasil, considerando cotação de hoje = 27,54*5500 = R$151.470,00 daqui a 50 anos como parte do meu patrimônio do que uma maior probabilidade de estar doente devido ao consumo desse veneno chamado cigarro.
A propósito, pode ser Banco do Brasil, Vale, Petrobras, Eletropaulo, etc... você escolhe. O importante é que são ativos e não passivos, algo muito melhor do que ficar doente e um pouco mais pobre a cada dia gastando com aquilo que ainda por cima poderá te matar.
E você, qual sua opinião? Comente.