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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Venda descoberta de opções: operação sem sentido

 Engana-se quem pensa que este artigo é apenas para dizer que a venda descoberta tem risco ilimitado, etc, etc. Embora isso seja verdade e, pasmem, há analistas técnicos famosos que dizem que este risco é "teórico", parece que há algo que nenhum investidor que opere venda descoberta de opções sequer tenha pensado. Se pensou e mesmo assim faz a operação, não pode ser chamado de investidor e sim de jogador.

Este detalhe desconsiderado é a taxa de ganho. Como em qualquer operação financeira, todo lucro e prejuízo é medido por taxa percentual, se você investe 100 reais e ganha 20, teve lucro de 20%, se perdeu 35, o prejuízo foi -35%. Simples. Porém, algo que não parece claro é, se você investe 10 mil e ganha 20 reais NÃO é a mesma coisa que investir 100 e ganhar 20, ainda que o ganho nominal seja igual (20=20). Simples mas alguns não aceitam.

Estas mesmas contas simples não são percebidas por aqueles que ficam ávidos em vender opções a descoberto. Antes, uma rápida explicação sobre a operação em si para aqueles que não conhecem e então falemos sobre a falta de sentido em não se considerar a taxa. Se você conhece opções, pule os próximos parágrafos e vá para "voltando às taxas".

Opções são derivativos que quando adquiridos, dão direito de compra ou de venda para aquele que adquiriu, chamado titular. Falando sobre opções de compra, as mais negociadas no Brasil, o titular da opção possui o direito de comprar determinado papel pelo valor definido em tal contrato até certa data pré-definida. Ao exercer esse direito, aquele que vendeu, chamado lançador, é obrigado a vender a ação pelo valor do contrato. Isto é, mesmo que por exemplo Petrobras esteja sendo negociada por 40 reais, quem tiver o direiro de comprar por 20,00 poderá faze-lo obrigando o lançador que possui as ações a vender por este valor.

Aí é que se define o famoso risco ilimitado para quem vendeu (lançou) uma opção SEM possuir a ação:

Imagine um lançador que vende 1.000 opções sobre ações da Petrobras de preço 25,00 e recebe um valor por isso. Se no dia que expirar esse contrato, a Petrobras estiver abaixo de 25,00 ninguém irá exercer o direito de compra justamente porque poderia comprar no mercado mais barato. Digamos que Petrobras esteja a 27,00 o lançador tem obrigação de vender por 25,00 e estaria perdendo 2,00 por ação, mas como recebeu um valor pela venda da opção o prejuízo foi menor ou até ficou no lucro, dependendo por quanto ele vendeu a opção. O problema é aquele que NAO tem Petrobras, ele é obrigado a ir no mercado, comprar por 27 e entregar por 25. Até aí prejuízo aceitável, já que no início do exemplo consideramos 1.000 opções dando um prejuízo de 2.000 reais.

Agora imagine que Petrobras descobriu um poço de petróleo enorme, digamos, Tupi. As ações disparam e vão a 50 reais por exemplo. O lançador tem que comprar o papel por 50 reais para entregar por 25... no nosso exemplo, estamos falando de 25.000,00 (isso se ele vendeu 1000 opções, se foi mais, multiplique proporcionalmente).

Note que esse pode ter sido o lucro de anos de operações, entregues de uma só vez. Se não tem o dinheiro, aí vem a corretora executar o que ele tem para pagar a dívida. Pode ser aquele carro que tá na garagem, comprado quem sabe com muita dificuldade...

Voltando às taxas

Quanto ao risco dessa operação, não se discute, dependendo de quantas opções vendeu e para quanto o papel subiu, realmente estamos falando de risco ilimitado. Como a cotação do papel não tem limite superior, pode subir ilimitadamente, o risco é o mesmo.

Os equivocados se colocam nesse risco insano por pura falta de conhecimento
Eles não prestam atenção na taxa. O risco/benefício é pior do que em outras operações muito mais seguras. O operador descoberto de opções, lança uma opção de 1 real esperando que ela não dê exercício e com isso ele "ganha 1000 reais fácil (?)". Só que, além do risco altíssimo, há dois detalhes importantes que são negligenciados apenas por super-amadores ou por quem tenta ser mais esperto que o mercado. Esses detalhes são a margem chamada e a taxa de retorno.

Veja como é uma operação sem sentido:

a) venda descoberta de 2.000 opções a R$1,20 = recebe R$2.400

- risco máximo: ilimitado
- ganho máximo: 2400 reais
- margem 400% : 4 x 2.400 = 9.600
- taxa de retorno maximo = 2400 / 9600 = 25%

b) trava de baixa de 2.000 opções recebendo spread de 1,20 = recebe R$2.400

*considerando uma trava com opções que tem diferença de preços de exercício de 2,00

- risco máximo: LIMITADO a 2,00* - 1,20 = 0,80 centavos x 2000 opções = R$1,600
- ganho máximo: 2400 reais
- margem      : 2000 opções x 2,00* = R$4.000
- taxa de retorno maximo = 2400 / 4000 = 60%

Percebam que a maioria das corretoras pedem pelo menos 400% de margem sobre a venda. Ou seja, para cada 1 real vendido é preciso deixar 4 na corretora. Uma  trava de baixa normalmente tem chamada de margem calculada pela multiplicação do número de opções vendidas pela diferença entre os preços de exercício (strikes) das opções da trava.

Isto faz com que no cenário 'a' sejam chamados 9.600,00 reais de margem e no cenário 'b' menos da metade disso, 4.000,00 reais. Ambas operações com objetivo de ganhar no máximo 2.400,00 reais.

Quem em sã consciência colocaria em jogo mais de 9 mil reais no em detrimento de colocar menos da metade disso para buscar o um ganho menor? Sim, um ganho menor, pois não se olha o valor recebido na operação e sim a taxa recebida. Na operação 'a' o ganho foi de 25% e na operação 'b' é de 60%. E ainda por cima correndo o risco de perder a margem e ainda sair devendo no caso da operação ir contra.

Só mesmo não sabendo o que está fazendo para colocar mais dinheiro em jogo com intuito de buscar ganho menor e ainda podendo sair devendo da operação.

...e o pior que ainda tem gente cobrando para ensinar os novatos a fazerem uma operação dessas. Antes de entrar em qualquer operação, verifique todo o plano e veja se vale a pena. Afinal, operações que parecem fáceis são as que podem lhe dar mais dor de cabeça.


domingo, 14 de agosto de 2011

Carteiras recomendadas - um estímulo para o GIRO

É fato que qualquer corretora tem como uma das principais fontes de receita os recursos financeiros gerados pelas corretagens pagas pela sua base de clientes a cada compra e venda que estes fazem. Normal, afinal é o negócio delas.

Sendo assim, é óbvio que é do interessante que seus clientes executem o maior número de ordens possíveis. E como conseguir isso? Recomendando tais operações. Nada é de graça, ninguém recomenda compra ou venda porque é bonzinho com o cliente, mas sim porque isso vai gerar lucro através de corretagem. Afinal, o que seria da maioria das corretoras se TODOS os seus clientes apenas comprassem ações para a aposentadoria, fazendo buy and hold passivo para acumular papéis e tirar rentabilidade através de juros sobre capital próprio e dividendos? Até a própria bolsa mesmo, como seria se não houvessem milhares de pessoas físicas negociando todos os dias ainda que o número de CPFs na bolsa brasileira seja muito pequeno em relação a população do país.

Realmente o sistema precisa de giro, precisa que alguém pague a conta. Não estou dizendo que você não deve pegar uma PARTE PEQUENA do seu patrimônio para fazer umas operações rápidas (no semanal ou no diário) para tirar algum lucro de bons movimentos e com isso comprar mais ações para longo prazo. A questão é, se você quer operar algum papel para tirar lucro de movimentos direcionais, use algum método.

Não seria tão ruim dar uma olhada nas recomendações, o problema é que na maioria das vezes recomendam compra quando está tudo lá em cima, falando para colocar mais e mais grana e, justamente quando tudo cai, o índice tá no vermelho total, os papéis estão "no fundo do poço" é que recomendam vender tudo, realizar prejuízos e fugir para a renda fixa. Não faz o menor sentido.

Vejam estes dois gráficos, de Gerdau e Usiminas no período semanal como exemplo (NÃO é preciso saber análise técnica para entender):

Gerdau semanal


Usiminas semanal


Notem como a semana de 5 de abril de 2010 era no mínimo para se ficar com o pé atrás para as compras, isso porque estávamos próximos do topo histórico do Ibovespa como visto no gráfico abaixo:

Índice IBOVESPA semanal


É claro que olhando hoje (14/08/2011) fica mais fácil, mas, mesmo naquele dia já era fato que o ibovespa tinha topo histórico em ~73.800 pontos em maio de 2008. Além disso, Usiminas e Gerdau (como outras boas empresas) tinha vindo de movimentos fortes de alta desde março de 2009. No caso destas duas, eram 260% de alta no período mar-09 a abr-10 para Usiminas e 198% para Gerdau no mesmo período.

Então, sem análises para que não pareça que está fácil porque "o lado esquerdo do gráfico é mole analisar". Apenas se coloque naquela semana de abril de 2010 e se pergunte: "qual o motivo lhe faria colocar todo o dinheiro possível em ações que já tinham subido 200% em pouco mais de 1 ano??"

Movimentos fortes de alta como esse acontecem sempre, o que não se pode é cair no canto da sereia e achar que eles serão para sempre. Agora vejamos as recomendações daquela época, ninguém ou quase ninguém diz "cuidado porque já subiu bastante, se tem o papel e não é para aposentadoria realize o lucro, pelo menos parte dele, e se não tem, aguarde um recuo importante para comprar".

O que vemos é isso:

recomendando giro


Notem esse trecho do 'histórico da carteira recomendada' de uma corretora. Olhando de baixo para cima, no início de abril, a corretora indica compra de CSN porque as "commodities blá blá blá" e venda de Brookfield por causa do "PAC blá blá blá".
Um mês depois, recomendam venda da CSN e compra da Brookfield.
...se isso não é GIRO, não sei o nome que se dá.

Em tempo, quem seguiu esta recomendação de CSN, PERDEU 17,88% (6 reais por ação) como visto abaixo...

CSN diário


Outro exemplo, em um vídeo que encontrei na web com uma entrevista com uma analista, ela faz comentários sobre os EUA, economia mundial, etc, é citado que o cenário estava positivo para as commodities (aquele mesmo papo de sempre), e que bons papéis para "curtíssimo prazo" (GIRO) as ações a comprar seriam as da justamente a nossa querida Usiminas do exemplo.

Detalhe, o video é de 29/03/2010, exatamente 1 semana antes do derretimento de USIM5. Daí em diante foram 9 semanas fechando em baixa. Depois uma alta de correção e daí em diante pivots de baixa seguidos no semanal até chegarmos aos preços de hoje. Estamos falando de 30,56 até a mínima de 9,86 feita semana passada, 67% de queda em pouco mais de 1 ano.

Aí é que está a sacada, depois de uma alta enorme de 1 ano ninguém manda vender... Quando cai depois de 1 ano, só se vê análises de que o mundo vai acabar e até mesmo dizerem que o aço não seria mais tão usado no mundo... Sabe quando vão mandar você comprar Usiminas? Quando ele estiver próximo dos 30 reais novamente....

Para finalizar, em outra busca pela web, encontrei recomendações de Petrobras e Vale, na mesma época (5/abril/2010), a história é a mesma, recomendam compra quando deveria recomendar alívio de posições. Passa-se o mouse no nomes das corretoras, 2 recomendam Usiminas, 4 recomendam Gerdau, 5 recomendam Petrobras (que no texto erradamente está com acento) e as 6 recomendam Vale.

Acredito que também possam fazer boas indicações até para manter a confiança do cliente. De qualquer forma é bom ter cuidado com o estímulo ao giro...