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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Comparando Banana com Laranja nos Investimentos

Ambro / FreeDigitalPhotos.net
Mais uma vez saiu hoje em diversos sites sobre economia que a renda fixa bateu a renda variável nos últimos anos (?).  Usando o Google News para localizar tal notícia nas diversas fontes, notei que com o título "renda fixa é mais rentável que a bolsa há 17 anos", esse "furo" de reportagem apareceu em nada mais, nada menos do que 12 fontes diferentes, exatamente com o MESMO título. Fora as variações sobre o mesmo tema que não procurei e outras fontes que devem publicar ainda essa semana.

Agora, eu gostaria de saber qual o motivo de forçarem tanto a barra para que o pequeno investidor não coloque R$1,00 sequer na bolsa. O mais curioso: esse tipo de notícia coincidentemente sai quando a bolsa está em baixa, justamente no melhor momento de se fazer os maiores aportes, comprando empresas por preços convidativos.

Ou seja, bolsa brasileira rondando os 57 mil pontos, quando estivermos lá nos 70 mil, com vários papéis em seus topos históricos é que vão recomendar compras ?? Imagino que a resposta seja SIM, já que isso aconteceu outras vezes no passado, reportagens sobre pessoas que largaram seus empregos e foram para bolsa, reportagens sobre o glamour que é aplicar na bolsa, recomendações de compra com objetivos estratosféricos (os tais preços-alvo) que particularmente chamo de "objetivos das bolas de cristal".

Na minha opinião, o maior problema é que o pequeno investidor fica confuso quando lê algo do tipo:
O material (...) leva em consideração os resultados do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), principal termômetro da bolsa brasileira, e os títulos do Tesouro Direto.
Indo direto aos pontos:

1 - O índice ibovespa é composto por ações de 68 empresas dos mais variados setores da economia brasileira. Ao olhar o resultado do índice, qualquer estudo comparativo estará errando por um motivo simples: a carteira escolhida do investidor.


Imaginemos um investidor que escolheu boas empresas para ser sócio, não mais que 10 empresas, as famosas bluechips. Este investidor terá rentabilidade TOTALMENTE DIFERENTE de um outro que montou uma carteira idêntica ao índice, comprando nas mesmas proporções todas as 68 ações ou que simplesmente comprou o ETF BOVA11 que representa o índice.

Para exemplificar, Vale (VALE5) no período de 10 anos (2001-2011) está com valorização de 1.741%,  eu não digitei errado, é isso mesmo mais de um mil porcento. Petrobras (PETR4) no mesmo período, 483% sem contar que chegou a 1.220% em seu topo histórico.

2 - Comparar banana com laranja não faz sentido, renda variável já tem esse nome justamente porque... varia.

Renda fixa é... fixa. Não existe esse tipo de comparação, pois cada um pode pegar um período diferente e vai ter resultados totalmente diferentes. Se comparar com períodos de alta das ações, elas ganharão, se pegar período de baixa, elas perderão. A renda fixa é um ótimo instrumento para ser mais um elemento de diversificação, mais um e não o único.

3 - Outra coisa que acaba desinformando é a desconsideração do investimento em bolsa como patrimônio.

Se qualquer financista fizer meras comparações de rentabilidades nas cotações, ele está assumindo que o investidor irá vender suas ações com o objetivo de ganhar na valorização da cotação. Mas, e aquele que compra ações para ser sócio das empresas e desfrutar dos rendimentos traduzidos por dividendos e juros sobre capital próprio?? Variações como as que eu mesmo exemplifiquei acima de mais de 1.000% não fazem a menor diferença para quem compra ações para a aposentadoria e posterior herança. - "E daí se subiu,  não vou vender" - esse é o pensamento do holder (acumulador).

4 - Por último, por que comparar dois investimentos diferentes se eles não são mutuamente exclusivos?? O mesmo investidor que compra ações é o mesmo que compra títulos do governo.

Por que não lemos em quase lugar algum pela internet que está na hora de se concentrar mais em renda fixa ou em renda variável de tempos em tempos em vez de reportagens induzindo ao giro puro? Como se fosse fácil ficar correndo atrás "do melhor investimento", até parece. Sai da fixa vai para as ações, sai das ações, vai para a fixa, e assim vai a manada alimentando o sistema através de IR, taxas, etc, etc, etc. Quem fica procurando "o melhor" acaba diluindo boa parte do lucro com os custos da troca.

Talvez todo esse tipo de textos pela internet afora, de canais conhecidos faria um trabalho muito melhor se fizessem matérias sobre assuntos importantes como os estudos de Daniel Kahneman para que o pequeno investidor fuja do efeito manada, ou sobre estratégias como o Asset Allocation onde é muito mais fácil balancear o risco fazendo uma boa diversificação na carteira do que ficar procurando, se preocupando com qual aplicação é melhor.

Nem a minoria que domina o assunto sabe exatamente "o que é melhor". E não por culpa dessa minoria, simplesmente porque NÃO EXISTE o melhor, existem apenas investimentos diferentes, cada qual com seu prêmio e risco. 


Em suma, banana não se compara com laranja e vice-versa.

Carlos Magno