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domingo, 11 de dezembro de 2011

Ficar Líquido?

Muita gente fala que é ideal ficar líquido quando a situação na bolsa não está 'confortável'. Ou seja, o investidor que não opera vendido, decide tirar o dinheiro da renda variável quando acontecem crises para voltar mais tarde quando os preços estiverem mais baixos (ou não) mas com viés de alta novamente.

Para estas pessoas, enquanto a bolsa está desabando, o feliz (incauto) investidor precisa que seu dinheiro esteja protegido (?) na renda fixa.

Uma pena que aqueles que concordem plenamente com essa estratégia não demonstram ter realmente considerado os prós e contras disso. E transmitem a frase "estou líquido, tirei tudo da bolsa quando começou a cair, depois eu volto quando melhorar" como se isso fosse a coisa mais inteligente e mais fácil do mundo.

Talvez possa até funcionar para
pequenos patrimônios. Por exemplo, 20 mil reais de patrimônio divididos em 5 mil na poupança para emergências e os outros 15 mil distribuídos em ações de diferentes empresas. Em um ano altista, o capital na renda variável de 15 passa para 20 mil.

Daí então, de alguma forma o investidor percebe que a bolsa está começando a entrar em um ciclo baixista, e uma crise se inicia. Como várias pessoas recomendam, ele retira os 20 mil, coloca tudo na poupança, que passa ser agora um pouco mais que 25 mil e espera tal crise passar.

Depois da tempestade de alguns meses ele volta para a bolsa com seus 20 mil, ou até todos os 25 mil e recompra aquelas ações que tinha a preços mais atraentes, para pegar novo ciclo de alta e assim sucessivamente.

Uma pena que isso só funciona no mundo da fantasia.

Isso tudo é muito fácil colocar no papel, mas na prática só se toma a decisão de cair fora por causa da crise depois que se está no meio dela. Isso porque, mesmo quando as cotações começam a cair semana após semana, o investidor adia a decisão de cair fora, pois ele sempre acha que aquilo é uma queda passageira. Ele só decide sair depois que se está no fundo e ele nem sabe. Isso leva a grande maioria das pessoas a venderem no fundo

Da mesma forma, a hora de voltar para a bolsa também é sempre adiada por medo do risco, por medo de que ainda irá cair mais. Afinal, é duro comprar ações que estão caindo muito... Então o investidor vai adiando a compra até que, quando decide comprar, já está próximo do topo (mesmo sem saber).

Está formado o ciclo compra no topo e venda no fundo. Isso se deve pelo simples fato de tentar prever o futuro e tentar ser mais esperto que o mercado "ficando líquido" - Ta caindo, vou ficar líquido e comprar tudo mais barato depois.

O maior problema é que, esta é uma forma disfarçada de dar dinheiro para o sistema:

Pensemos em patrimônios maiores em ações, digamos meio milhão. Só um ingênuo ou descuidado para achar que é fácil girar 500 mil reais para lá e para cá. Ainda que ele saia bem perto do topo e volte próximo ao fundo se mostrando um exímio operador, estará praticamente perdendo tempo e dinheiro.

Veja a sequencia:

1 - Compra 300 mil reais em ações, depois de 2 anos de boa alta vê o patrimônio se tornar 500 mil.

2 - Percebe uma crise quando a carteira está em torno de 400 mil, então vende tudo e vai para a renda fixa.

3 - Ao vender, teve lucro de 100 mil.

  • Paga IR de 15% sobre esse valor, 15 mil reais.

4 - Com os 375 mil, compra títulos públicos mantendo-se na renda fixa durante uma crise, digamos 1 ano.

5 - Percebe que a coisa tá melhorando e quer voltar para a bolsa. Nesse momento, sua carteira de títulos que tenham rentabilidade real (já descontada inflação) em torno de 5% a.a. estará valendo aproximadamente 393 mil.

  • Lucro nos títulos = 393.000 - 375.000 = 18 mil reais.
  • Paga 22,5% de IR sobre tal lucro = 4050 reais de imposto.
  • Valor da carteira atual = 393000 - 4.050 = 388.950 reais

Só nesse pequeno giro, pagou 19.050 reais de imposto de renda, sem contar taxas...

Veja que no início do ciclo, ele tinha 300 mil, ficou 2 anos na bolsa e 1 ano no tesouro direto. Agora ele está com 388 mil (arrendondados) 3 anos depois. Ele está com a carteira 29% mais valorizada no período. Só que, 300 mil corrigidos por uma inflação na casa de 6% a.a. resulta em 356 mil.

Como ele está com 388 mil, nesses 3 anos o capital cresceu 8,98% de taxa real (388 - 356 = 32 mil nominalmente). Se considerarmos que esse investidor poderia ter saído ainda mais tarde da bolsa e não ter voltado necessariamente no fundo, essa conta pode ficar empatada ou negativa, o que acredito ser o mais provável.

Não parece ser algo inteligente, em um único giro, pagar praticamente 20 mil de impostos e taxas para obter rentabilidade real menor que 10%. Não seria muito melhor deixar as ações quietas e a crise passar, sendo que durante todo o tempo posicionado não pagará impostos e ainda receberá dividendos para fazer o que quiser, inclusive comprar mais ações ?

Ainda que você queira se beneficiar da crise e comprar mais barato, não precisa ser com o capital das ações que você já tem. Se está em um período baixista, deixe essas ações quietas e aproveite para comprar novas ações com dinheiro novo que entrar de suas fontes de renda.

Portanto, essa história de ficar líquido só vai fazer seu dinheiro sair pelo ralo.


2 comentários:

  1. discordo totalmente...vc colocou um exemplo em que o fato de estar liquido não gerou ganho. Mas existem inumeros exemplos que estar liquido é positivo para o investidor. Não existe regrinha certa, vai depender da estratégia de cada um...

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  2. A questão anônimo, é que mesmo havendo ganho, quando você gira seu patrimônio são tantos custos que vc entrega boa parte dos ganhos para os intermediários, principalmente o governo através do imposto de renda.
    Patrimônio não se gira, se acumula. Você pode girar capital alocado a risco mas não o patrimônio.

    O exemplo mostra apenas um único giro e nele um bom percentual já é entregue nos custos. Perceba que neste exemplo consideramos que o investidor conseguiu sair próximo do topo e voltou próximo do fundo, algo bem difícil de acontecer porque quem gira o tempo todo geralmente sai no fundo e só compra novamente quando ele acha que a "bolsa ta boa", quando as notícias são ótimas, etc.. o que sempre acontece no período de euforia, no topo.

    Dessa forma, achar que é mais esperto que o mercado e sair totalmente da bolsa quando pensa que é o momento certo leva aos pequenos a comprar no topo e vender no fundo realizando prejuízos.

    Repetindo: patrimônio não se gira !

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