Para estas pessoas, enquanto a bolsa está desabando, o feliz (incauto) investidor precisa que seu dinheiro esteja protegido (?) na renda fixa.
Uma pena que aqueles que concordem plenamente com essa estratégia não demonstram ter realmente considerado os prós e contras disso. E transmitem a frase "estou líquido, tirei tudo da bolsa quando começou a cair, depois eu volto quando melhorar" como se isso fosse a coisa mais inteligente e mais fácil do mundo.
Talvez possa até funcionar para
pequenos patrimônios. Por exemplo, 20 mil reais de patrimônio divididos em 5 mil na poupança para emergências e os outros 15 mil distribuídos em ações de diferentes empresas. Em um ano altista, o capital na renda variável de 15 passa para 20 mil.
Daí então, de alguma forma o investidor percebe que a bolsa está começando a entrar em um ciclo baixista, e uma crise se inicia. Como várias pessoas recomendam, ele retira os 20 mil, coloca tudo na poupança, que passa ser agora um pouco mais que 25 mil e espera tal crise passar.
Depois da tempestade de alguns meses ele volta para a bolsa com seus 20 mil, ou até todos os 25 mil e recompra aquelas ações que tinha a preços mais atraentes, para pegar novo ciclo de alta e assim sucessivamente.
Uma pena que isso só funciona no mundo da fantasia.
Isso tudo é muito fácil colocar no papel, mas na prática só se toma a decisão de cair fora por causa da crise depois que se está no meio dela. Isso porque, mesmo quando as cotações começam a cair semana após semana, o investidor adia a decisão de cair fora, pois ele sempre acha que aquilo é uma queda passageira. Ele só decide sair depois que se está no fundo e ele nem sabe. Isso leva a grande maioria das pessoas a venderem no fundo
Da mesma forma, a hora de voltar para a bolsa também é sempre adiada por medo do risco, por medo de que ainda irá cair mais. Afinal, é duro comprar ações que estão caindo muito... Então o investidor vai adiando a compra até que, quando decide comprar, já está próximo do topo (mesmo sem saber).
Está formado o ciclo compra no topo e venda no fundo. Isso se deve pelo simples fato de tentar prever o futuro e tentar ser mais esperto que o mercado "ficando líquido" - Ta caindo, vou ficar líquido e comprar tudo mais barato depois.
O maior problema é que, esta é uma forma disfarçada de dar dinheiro para o sistema:
Pensemos em patrimônios maiores em ações, digamos meio milhão. Só um ingênuo ou descuidado para achar que é fácil girar 500 mil reais para lá e para cá. Ainda que ele saia bem perto do topo e volte próximo ao fundo se mostrando um exímio operador, estará praticamente perdendo tempo e dinheiro.
Veja a sequencia:
1 - Compra 300 mil reais em ações, depois de 2 anos de boa alta vê o patrimônio se tornar 500 mil.
2 - Percebe uma crise quando a carteira está em torno de 400 mil, então vende tudo e vai para a renda fixa.
3 - Ao vender, teve lucro de 100 mil.
- Paga IR de 15% sobre esse valor, 15 mil reais.
4 - Com os 375 mil, compra títulos públicos mantendo-se na renda fixa durante uma crise, digamos 1 ano.
5 - Percebe que a coisa tá melhorando e quer voltar para a bolsa. Nesse momento, sua carteira de títulos que tenham rentabilidade real (já descontada inflação) em torno de 5% a.a. estará valendo aproximadamente 393 mil.
- Lucro nos títulos = 393.000 - 375.000 = 18 mil reais.
- Paga 22,5% de IR sobre tal lucro = 4050 reais de imposto.
- Valor da carteira atual = 393000 - 4.050 = 388.950 reais
Só nesse pequeno giro, pagou 19.050 reais de imposto de renda, sem contar taxas...
Veja que no início do ciclo, ele tinha 300 mil, ficou 2 anos na bolsa e 1 ano no tesouro direto. Agora ele está com 388 mil (arrendondados) 3 anos depois. Ele está com a carteira 29% mais valorizada no período. Só que, 300 mil corrigidos por uma inflação na casa de 6% a.a. resulta em 356 mil.
Como ele está com 388 mil, nesses 3 anos o capital cresceu 8,98% de taxa real (388 - 356 = 32 mil nominalmente). Se considerarmos que esse investidor poderia ter saído ainda mais tarde da bolsa e não ter voltado necessariamente no fundo, essa conta pode ficar empatada ou negativa, o que acredito ser o mais provável.
Não parece ser algo inteligente, em um único giro, pagar praticamente 20 mil de impostos e taxas para obter rentabilidade real menor que 10%. Não seria muito melhor deixar as ações quietas e a crise passar, sendo que durante todo o tempo posicionado não pagará impostos e ainda receberá dividendos para fazer o que quiser, inclusive comprar mais ações ?
Ainda que você queira se beneficiar da crise e comprar mais barato, não precisa ser com o capital das ações que você já tem. Se está em um período baixista, deixe essas ações quietas e aproveite para comprar novas ações com dinheiro novo que entrar de suas fontes de renda.
Portanto, essa história de ficar líquido só vai fazer seu dinheiro sair pelo ralo.
discordo totalmente...vc colocou um exemplo em que o fato de estar liquido não gerou ganho. Mas existem inumeros exemplos que estar liquido é positivo para o investidor. Não existe regrinha certa, vai depender da estratégia de cada um...
ResponderExcluirA questão anônimo, é que mesmo havendo ganho, quando você gira seu patrimônio são tantos custos que vc entrega boa parte dos ganhos para os intermediários, principalmente o governo através do imposto de renda.
ResponderExcluirPatrimônio não se gira, se acumula. Você pode girar capital alocado a risco mas não o patrimônio.
O exemplo mostra apenas um único giro e nele um bom percentual já é entregue nos custos. Perceba que neste exemplo consideramos que o investidor conseguiu sair próximo do topo e voltou próximo do fundo, algo bem difícil de acontecer porque quem gira o tempo todo geralmente sai no fundo e só compra novamente quando ele acha que a "bolsa ta boa", quando as notícias são ótimas, etc.. o que sempre acontece no período de euforia, no topo.
Dessa forma, achar que é mais esperto que o mercado e sair totalmente da bolsa quando pensa que é o momento certo leva aos pequenos a comprar no topo e vender no fundo realizando prejuízos.
Repetindo: patrimônio não se gira !