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sábado, 12 de maio de 2012

Dados Isolados Não Importam

Quando um investidor decide formar uma carteira de longo prazo, ele tem em mãos diferentes dados para fazer suas análises e verificar se as empresas que ele deseja ser sócio realmente devem entrar para o seu portfolio.
Alguns dos dados mais comentados tanto por iniciantes quanto por profissionais são preço atual da ação, receita da empresa, a relação preço/lucro, o valor patrimonial por ação e a taxa de distribuição de dividendos.
Todos esses e outros, geralmente são interpretados de forma errada. 

Existem investidores que olham para uma empresa que tem uma receita gigantesca e já acham que é lucro certo porque ela vende muito, outros acreditam que somente ter altos dividendos bastam para que a empresa seja a ideal. Há os que olham apenas para o famoso P/L, determinam um valor e pronto: "com P/L abaixo de 10 eu entro forte".

Infelizmente não é tão simples assim, dados isolados não importam para a análise. Os dados acima, por exemplo, quando analisados isoladamente podem até levar o investidor a escolher empresas ruins:

- Preço:
O preço sozinho não quer dizer nada, só porque determinada empresa custava 12 reais há 3 anos atrás, não significa que por estar custando 4 reais agora, é hora de comprar. Nesses 3 anos tudo pode ter acontecido, a empresa pode ter duplicado suas dívidas, pode estar dando prejuízo. Se olhar apenas o preço da ação negociado atualmente, correrá o risco de comprar lixo.

- Receita:
"Tal empresa é a maior vendedora do seu segmento no mundo. A receita é gigantesca" - E daí? De que adianta se a empresa vender muito mas não conseguir um lucro decente ou pior, conseguir dar prejuízo. Se a receita for imensa e o lucro não está aparecendo, tem que ver se ela não tá gastando demais, dando bônus demais para diretoria, doando grana demais para campanhas políticas, etc. Receita grande sozinha não quer dizer nada.

- P/L - relação preço/lucro:
Essa é a variável mais famosa da análise de empresas mas, sozinha ela não importa. A divisão do preço pelo lucro por ação. Exemplo: se a ação A estiver sendo negociada por R$ 24,00 e o lucro por ação (normalmente anual) for R$ 3,00 então o índice P/L é 24/3=8.
Isto significa que o capital de R$ 24 investido na compra, será retornado em 8 anos desde que o lucro se mantenha o mesmo durante esse período. É aí que a maioria erra, os 'adoradores do P/L' esquecem que o lucro pode cair.

Outro erro é que, quem só compra ação com P/L baixo cria restrição às ações com P/L alto e desta forma deixam de comprar empresas fortes que mantém lucro crescente pelos anos ainda que o preço da ação suba de forma proporcional.

Ou seja, imagine que a ação B seja negociada por R$4,00 e seu lucro por ação é R$0,20 o que dá P/L = 20. Muitos deixam de fazer essa compra, achando ruim o retorno do capital somente em 20 anos. Porém, 12 anos depois a mesma ação está sendo negociada por R$40 e o lucro está em R$2. Isso resultaria no mesmo P/L=20, mas note que o capital investido nas ações multiplicou-se por 10 e a empresa teve um belo aumento no seu lucro, esbanjando saúde financeira ao multiplicar este lucro em 10 vezes.

Certamente os investidores nesta empresa estariam bem felizes por ter decuplicado a parte do patrimônio investido em B há 12 anos. A propósito, já comentei um exemplo de empresa que teve evolução semelhante - clique aqui para ler.

- VPA - valor patrimonial por ação:
Outro dado simples de ser verificado mas que sozinho não quer dizer nada é o VPA. Ele é o resultado da divisão do patrimônio líquido da empresa pelo total do número de ações emitidas. Ou seja, o valor real de cada "pedaço" da empresa. 

Teoricamente, se você compra uma ação por um preço abaixo do VPA, significa que você está aproveitando um desconto. Atenção para o teoricamente, pois se o mercado está precificando a empresa abaixo de seu valor uma das duas coisas está acontecendo: ou realmente uma ótima oportunidade apareceu ou o mercado percebeu que tal empresa realmente tem valor menor e portanto o VPA baixo seria um sinal ruim.
Desta forma, cuidado com "preço tá abaixo do VPA, é hora de comprar". Pode ser o contrário.

- DY - dividend yeld:
São muitos os textos que afirmam que investidores deveriam procurar sempre por dividendos altos. Se uma empresa tem sua ação custando R$60,00 e ela pagou nos últimos 12 meses R$2,00 por ação de proventos isso resultará num dividend yeld de 3,33% (2/60). Algumas pessoas abrem mão de várias empresas boas pelo simples fato de não ter um DY que lhes agrada.

Mas, faça o seguinte exercício, imagine duas empresas A e B. Um investidor aloca 100 mil em A com DY de 5%. Outro investidor coloca os mesmos 100 mil em B sem se importar com outros dados da empresa só prestando atenção em um DY de 10%. Com DY se mantendo igual no outro ano, o primeiro recebe 5 mil em dividendos e o outro 10 mil. Porém, anos depois o lucro da empresa A está 8 vezes maior,  as ações seguem o mesmo ritmo, e o investidor de A recebe agora 40 mil reais. Enquanto isso, o investidor de B segue com lucros estáveis como no passado, em uma empresa que paga alto DY mas por ser defensiva tem pouco crescimento e ele continua recebendo 10 mil reais em proventos.

Esse exemplo mostra como o importante é uma empresa que evolua. Ter DY alto hoje não garante nada amanhã. Ter DY baixo, pode ser até uma vantagem, pois se a empresa distribui poucos dividendos ela pode estar usando o dinheiro para coisas melhores como investimento em novas tecnologias, etc.
Portanto, cuidado com as "dicas quentes" do tipo "ação tal está com P/L abaixo de 9", ou "empresa tal está sendo negociada abaixo do valor patrimonial", ou ainda "o negócio é encher a carteira daquela empresa que paga altíssimos dividendos"... Analisar empresas pode ser simples, você não precisa necessariamente ser um mestre em finanças e economia para formar uma pequena carteira pessoal para o longo prazo. Escolha empresas com lucros crescentes e consistentes, dívida baixa, rentabilidade e margem boas. Mas  não olhe nenhum dado isoladamente.

O pequeno investidor precisa se afastar da manada que acha que basta olhar um único número e pronto. Se fosse assim, virava renda fixa.

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